É possível ter uma boa relação com uma pessoa narcisista?
- abravin

- 27 de jul.
- 4 min de leitura

Essa pergunta é comum entre pessoas que começam a perceber sinais de abuso emocional ou traços narcisistas no parceiro, amigo, familiar ou colega de trabalho. A resposta simples é: uma boa relação, no sentido saudável e equilibrado, é praticamente impossível. Mas vamos entender o porquê.
Para que um relacionamento seja considerado saudável, é preciso haver empatia, respeito, comunicação aberta e reciprocidade. Ou seja, as necessidades emocionais das duas partes devem ser levadas em conta. Certo?
No caso de quem apresenta um padrão narcisista, esses elementos básicos não são prioridade. O que prevalece é a necessidade de manter controle, se sentir admirado e garantir suprimento emocional, que seria um ‘alimento’ constante para a autoimagem frágil que o narcisista tenta sustentar.
O que torna essa dinâmica ainda mais complexa é que ela não começa ruim. Pelo contrário, no início, tudo parece perfeito e maravilhoso. Você recebe excesso de atenção, elogios e promessas de um futuro incrível. Essa fase inicial costuma criar uma sensação de conexão única, quase um conto de fadas.
Mas, com o tempo, o cenário muda. Críticas sutis, silêncios prolongados, chantagens emocionais e distorção da realidade passam a fazer parte da sua rotina. A vítima começa a viver entre picos de afeto e momentos de frieza, o que causa uma certa confusão e dependência emocional.
É comum pensar que se tiver mais paciência, tudo vai melhorar. Esse talvez seja um dos maiores perigos. Quanto mais você tenta agradar, se encaixar, se adaptar, mais vai se perdendo de si mesmo(a), mais vai ficando distante dos seus valores, dos seus ideais. Porque, para um(a) narcisista, a relação não é exatamente sobre você, é sobre como você pode servir para manter a sensação de poder e superioridade que ele(a) busca.
Esse ciclo nunca é um erro da vítima, como muitas acreditam. Mas uma dinâmica construída para ser desigual. A pessoa narcisista não vê problema no que faz, pelo contrário, muitas vezes acredita estar agindo certo.
Uma dúvida muito comum é, será que seria possível ter uma boa relação com pessoas com esse transtorno de personalidade? Para conviver bem com uma pessoa narcisista, vai depender do que você entende por ‘boa relação’. Se sua expectativa é ter equilíbrio, troca e segurança emocional, a resposta é não. Isso não significa que toda interação precise terminar em rompimento imediato, mas é preciso ser bem realista. Isso significa dizer que o vínculo será sempre instável e centrado no outro e que você terá que abrir mão das suas necessidades para manter a paz.
Isso pode ser aceitável em relações pontuais e formais, como no trabalho, desde que existam limites claros. Mas quando falamos de parcerias afetivas ou familiares, o desgaste é enorme.
Se você está em uma relação com alguém com traços narcisistas, duas perguntas podem ser importantes, “qual o custo para mim permanecer aqui? e “estou sacrificando minha autoestima, minha paz, minha saúde mental?”.
Às vezes, o caminho mais saudável não é tentar consertar a relação, mas fortalecer seus próprios limites e buscar redes de apoio para decidir, com segurança, qual é o próximo passo.
Talvez o erro seja a vítima pensar que com ela pode ser diferente, mas o modo de ser da pessoa narcisista já está relacionado a um padrão.
Muitas vítimas ainda acreditam que podem ‘arrumar’ a pessoa narcisista, pensando que, com mais dedicação, esforço e paciência, tudo vai mudar. Mas é fundamental compreender que isso não tem a ver com você, e sim com uma dinâmica que acontece independentemente de você ou do que você faça.
O modo de operar de uma pessoa narcisista não depende do seu comportamento, mas de fatores internos dela, ligados às questões que fogem ao seu controle. As atitudes da pessoa narcisista estão condicionadas a aspectos que não tem relação com a forma como a vítima se comporta.
Gosto muito de usar uma metáfora, para a gente poder entender uma relação lá no início. Imagina quando você inicia uma relação com uma pessoa, é como se ela te entregasse um quebra-cabeça. Em qualquer relacionamento, é natural que, com o tempo, você vá descobrindo como a outra pessoa funciona, o que gosta, como se comunica. Aos poucos, essas peças vão se encaixando, e a intimidade ajuda a construir harmonia, a confiança, o amor.
Mas, no caso de alguém com traços narcisistas, neste quebra-cabeça sempre haverá uma peça faltando. Isso significa que nada do que você fizer será suficiente para preencher as expectativas ou satisfazer seu ego frágil. Sempre haverá algo a mais que você deveria ter feito. E, claro, a culpa será colocada toda em você. Qualquer iniciativa sua nunca será considerada o bastante.
Então, para responder à pergunta, te convido a refletir como é para você viver uma relação com alguém que ignora seus limites, desvaloriza suas conquistas e faz você se sentir insuficiente?
Como seria tentar construir algo com quem não está disposto a reconhecer seu valor? É possível se sentir completo quando falta sempre uma peça essencial?
Muitas vezes será preciso olhar com carinho para dentro de si, buscar caminhos para a reconstrução dos espaços que foram invadidos sem permissão, e reconhecer que a resposta sobre ser possível ter uma boa relação com uma pessoa narcisista, sempre será não. Pelo menos não no sentido saudável que você merece. Porque a gente já sabe que um quebra-cabeça com peças faltando nunca possibilitará para você também uma relação feliz, por mais que você se esforce.
Se você sente que vive algo parecido, procure informação e, se possível, apoio psicológico. Romper o ciclo do abuso começa pela sua consciência e conhecimento sobre o que está passando.
Elizângela Negreiros




Comentários